A macaúba, uma espécie depalmeira nativa do Brasil, ganhará um novo incremento para a sua utilizaçãocomo alternativa na produção de biocombustíveis. A Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa) Bioenergia assinou nesta terça-feira (19), umacordo de cooperação com o Centro Mundial de Agroflorestas (Icraf), para realizarprojetos dentro do Programa para o Desenvolvimento de Cultivos Alternativospara Biocombustíveis.
O Brasil, representado pelaEmbrapa Bioenergia, faz parte do comitê diretivo do programa, que, nestaprimeira fase, recebeu US$ 3,5 milhões da Organização das Nações Unidas (ONU),por meio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).Especificamente para o projeto com a macaúba, o Icraf também investiu US$ 400mil.
A fase inicial do programa, dequatro anos, será focada em países da América Latina, da África e do Sul daÁsia. Em 2013, as atividades começaram em comunidades na Índia. Este mês,iniciam-se no Piauí, no Brasil, e para África, o Icraf ainda estuda as melhoresformas de intervenção e os subprojetos que serão desenvolvidos.
No Brasil, o programa é focado noNordeste brasileiro, onde a Embrapa já vinha avançando na prospecção deespécies nativas com potencial para uso na produção de biocombustíveis,explicou o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira de Souza Junior.
“Vamos buscar diversificar asfontes de bioenergia, de culturas energéticas para a região do Semiárido, comfoco em algumas palmeiras, começando pela macaúba. E isso vai ser feito dentrodo conceito de agroflorestas, combinando diversas espécies vegetais paraproduzir alimentos e combustíveis”, disse Teixeira.
A primeira etapa do projeto com amacaúba será a construção de um banco de dados, de uma caracterização ampla dofruto e do óleo, assim como dos resíduos que a planta gera no seu cultivo eprocessamento.
O segundo passo será mostrar inloco, em dias de campo com agricultores familiares, que a macaúba pode sercultivada na região e gerar renda. E depois, viabilizar a interação da Embrapacom os pequenos produtores dentro dessa lógica de fontes de agroenergiaalternativas para o Nordeste, para que eles sejam integrados à cadeia deprodução dentro do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).
“É uma cultura nacional, adaptadaa diversas regiões do Brasil e que, potencialmente, é bastante interessante emtermos de produtividade, comparado ao dendê, que tem materiais de 6 a 7 litrosde óleo por hectare. No caso da macaúba, temos 3 ou 4 litros por hectare. Já asoja, que é a principal fonte de óleo vegetal para produção de biodiesel no Brasil,produz de 400 a 500 litros por hectare”, explicou Teixeira.
O coordenador-geral deBiocombustível do Ministério do Desenvolvimento Agrário, André Grossi Machado,explicou que, com a implantação do PNPB em 2014, ficou muito claro o potencialdas oleaginosas produzidas principalmente pela agricultura familiar. “E asoleaginosas perenes, como a macaúba, têm um balanço energético bom, altaprodutividade de óleo, é intensiva em mão de obra, além de promover váriosbenefícios ambientais”.
Segundo Grossi, apesar de nãoparticipar desse protocolo específico com o Icraf, o ministério, assim comovários órgãos do grupo gestor do PNPB, trabalham no fomento da macaúba. Um dosavanços alcançados foi a publicação do preço mínimo para o fruto pela CompanhiaNacional de Abastecimento (Conab). “As comunidades que estavam vendendo a R$0,18 o quilo hoje têm a possibilidade de contar com a subvenção da Conab, com opreço mínimo de R$ 0,45 por quilo. Agora, os agricultores têm essa segurançapara produzir macaúba”, explicou o coordenador do MDA.
Entretanto, apesar desse avanço,faltam estatísticas sobre a cultura. “Não tem plantio comercial, não temzoneamento agrícola. É uma espécie que tem grande maciços naturais em MinasGerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, estamos descobrindo no Ceará, Piauí, eos extrativistas vivem há muitos anos puxados pelo comércio do óleo e docarvão”, disse Grossi.
Segundo ele, o próximo passo éfazer um zoneamento agroclimático, para as instituições bancárias teremsegurança para criar linhas de crédito e a cadeia começar a se organizar.“Devemos seguir os passos que foram feitos com o dendê – zoneamentosagroclimático, ecológico, econômico, agrícola, associados a linhas de crédito ecapacitação de agentes para que as coisas comecem a funcionar. Puxados semprepela demanda por óleo, é preciso ter um comprador para isso”, argumentouGrossi.
Fonte: Agência Brasil